Eu preciso falar sobre a experiência que eu tive na escola onde estudei por anos. Não é para atacar gratuitamente, nem para criar confusão. É simplesmente porque eu vivi aquilo, e ficou marcado em mim de um jeito que até hoje me afeta.
Para ser justo, os professores eram ótimos. Eles realmente tentavam ensinar, manter a sala, orientar, e eu reconheço isso. Eles faziam mais do que o necessário, muitas vezes com pouco recurso e pouca estrutura. O problema nunca foi o ensino, nem o esforço dos professores.
O problema sempre foi o ambiente e, principalmente, a direção.
Lá dentro, o clima era pesado. Tinha sempre conversa de briga, ameaça, zoação com tudo e todos. Era um ambiente onde quem gritava mais ou se mostrava mais agressivo era quem tinha “respeito”.
Um aluno em específico se achava melhor que todo mundo só porque era repetente. Ele humilhava as pessoas, fazia piada com tudo e nunca acontecia nada com ele. Nunca. Enquanto isso, outro aluno foi suspenso por dizer que uma menina tinha peidado. A diferença de tratamento diz muita coisa.
A direção sempre falava:
“Vamos ver o que podemos fazer.”
Mas nunca fazia.
Isso virou frase automática. Prometeram que chamariam a polícia em casos de bullying. Nunca aconteceu. Prometeram advertências, acompanhamento, conversa com pais. Nada saía do papel.
E é triste, porque essa é uma das maiores escolas estaduais da cidade. Uma escola que poderia ser referência. Muitos alunos ali têm potencial, têm talento. Mas só se destaca quem já tem dinheiro, nome ou influência. O resto é deixado de lado.
Saí dessa escola com síndrome de perseguição. Eu realmente comecei a achar que todo mundo estava me observando, me julgando, falando de mim. Isso dificultou muito minha vida na escola nova, que, por sinal, é ótima. Só que eu precisei reaprender a socializar, porque o ambiente da escola antiga destruiu minha confiança.
A escola também era cheia de panelinhas. Não grupos de amizade, panelinhas que se juntavam só para falar mal de alguém. A direção se preocupava mais com uniforme do que com saúde mental. Achavam que gritar resolvia. Quando, na verdade, muitos alunos ali precisavam era de encaminhamento psicológico, que inclusive existe pelo SUS, mas nunca foi considerado.
E ainda tinha o capacitismo. Era normal ouvir gente usando “autista”, “pcd” e outros termos como insulto. E ninguém fazia nada. Isso acontecia todos os dias, nos corredores e dentro das salas.
A diretora postava no Instagram campanha contra bullying, mensagens bonitas, frases inspiradoras. Mas dentro da escola, a realidade era completamente diferente. Era tudo imagem. Aparência. Nada mais.
Sendo bem direto:
Só vão fazer alguma coisa quando acontecer algo grave. Quando alguém se revoltar, ou quando alguém não aguentar mais e cometer algo contra si mesmo. E aí vão fingir surpresa, dizer que nunca imaginaram, que “sempre tentaram ajudar”. Mas quem viveu lá dentro sabe a verdade.
Turma: 6° ano (2024), primeiros 6 meses de 2025, 7°